Moutinho, Izmailov, transição defensiva do FC Porto e saber escolher

white corner field line on artificial green grass of soccer field
“Esperava um Porto forte, mas não tão forte” Iturra.
“O meio campo esteve bem? Foram todos os sectores. Nos começamos a defender com os avançados logo na área do nosso adversário. A nossa reacção à perda foi imediata. Sempre excelente.” João Moutinho
Há não muito em conversa com um jovem futebolista colega de equipa do meu filho, que me explicava uma decisão tomada em determinado lance (“não sabia se era eu que devia ir”), respondi-lhe “És sempre tu. Se não eras, quem era vai compensar. Portanto, na dúvida és sempre tu.”.
É um pouco assim a transição defensiva do FC Porto. A reacção rápida e assertiva à perda da posse só é possível porque no momento de organização ofensiva, há um privilegiar por um futebol mais apoiado, de toque curto, mantendo quatro médios no corredor central, com apoios laterais dos defesas laterais. A equipa está próxima, e perde a bola geralmente após um passe rasteiro que não chegou ao destino. 
Após cada perda segue-se um sprint rápido do jogador mais próximo da bola para a contenção (colocar-se entre o adversário com bola e a sua própria baliza) e o aproximar repentino de todos quanto os que estão próximos, cortando linhas de passe ao portador. Invariavelmente os adversários do FC Porto acabam por ter de jogar longo. Futebol sempre condenado ao insucesso pelos “monstros físicos” que a equipa azul e branca tem na sua rectaguarda. E o jogo vai sucedendo-se maioritariamente a este ritmo. FC Porto em organização, em organização, em organização. Perde, dois segundos depois já recuperou. Ou mais à frente se adversário tenta sair a jogar, ou mais atrás, se no aperto o seu adversário joga directo.
“…subitamente ganhou espaço de relevo no plantel, assumindo a titularidade. Oferece o que outros jogadores da sua posição não têm. Qualidade técnica acima da média, capacidade de remate, desequilíbrios no último passe e enorme versatilidade” Jornal A Bola, sobre Izmailov.
Incrível transferência fez o FC Porto. Sem custos, e à custa dum excedente e de outro que estaria a prazo, faz chegar ao clube um dos melhores jogadores da Liga. Sempre foi referenciado aqui como tal. Se é estupenda a qualidade de Izmailov, é ainda mais certeira a escolha azul e branca. Seria um dos poucos jogadores da Liga que poderia desde logo ter entrada no seu onze, porque é inúmeras vezes superior a Varela e porque ainda se constituiu como alternativa credível a James. Não deixa de ser curioso que ontem tenha sido o português o primeiro a ser substituído. Percebe-se que o russo ainda está um nível abaixo dos colegas na velocidade a que pressiona e se movimenta. É um tipo de jogo a que não está habituado. Porém pela sua enorme qualidade de decisão e técnica, é seguro que será um jogador determinante no desenrolar da época portista. Ainda a tempo de figurar no melhor onze da Liga.
Ainda sobre escolhas e a importância de ter quem percebe verdadeiramente de futebol, e não quem pensa que percebe ou finge fazê-lo, curioso olhar para o crescimento do SL Benfica nas últimas épocas desde a chegada de Jorge Jesus. Pensar nos jogadores que escolheu, e pensar que entre outros terão sido referenciados: Alex Sandro, Danilo, James, Mangala e Defour. Não se sabe se é Jorge Jesus quem recomendou / observou, mas é seguro que não serão somente os empresários a bater à porta com as “maravilhosas” possibilidades de negócio depois dos dirigentes solicitarem um cardápio por posições. Há e haverá sempre más escolhas, porque será impossível controlar todos os factores de rendimento, sem ter a possibilidade de conviver no terreno com o jogador num período experimental. Todavia ser rigoroso e saber escolher é cada vez mais determinante no sucesso de um clube de futebol. E se terá sido péssimo perder jogadores que valerão milhões e títulos para um rival, não deixa de ser positivo saber que relativamente a um passado recente, houve um incremento muito grande de qualidade nas opções que se tomam. Também por isso o aproximar ao sucesso.
Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

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